Balanço da viagem a Mbanza Congo:


Dois macacos, muitas galinhas do mato (uma delas suicidou-se quando nos viu), um enxame de abelhas doidas, uma praga de moscas tse tse, muitas tabuletas de trânsito chinesas e dores pelo corpo todo.
Comecemos pelo fim. Um terço da viagem (200 e tal km) é feita em estrada de terra batida. Estamos na época da chuva e portanto há sulcos profundos, lama, pedras e basicamente metade do percurso(em horas) assemelha-se a viajar em cima de uma plataforma vibratória. É doloroso. A cereja em cima do bolo é a nódoa negra gigante no osso do pescoço provocada pelo cinto de segurança. Precisava de uns dias de SPA, mas adiante…
Felizmente, este percurso tortuoso tem os dias contados. Há uma estrada a ser construida. Ao longo do caminho, de vez em quando, lá aparece um desvio para meia duzia de metros de alcatrão. A parte deliciosa é que sendo uma estrada construída pelos chineses a sinaletica é imitação. São triângulos ou circulos de madeira pintados a amarelo, com contorno vermelho e sinais impossíveis de compreender: setas que apontam para lado nenhum, rabiscos a imitar saidas e entradas de viaturas e a minha preferida, um gatafunho tipo serpente antes de cada desnível. São exercícios de imaginação.
O raio das moscas do sono é que são uma praga. Eu tenho medo de baratas e de abelhas. Não tenho medo de moscas. Mas, quando um filho da terra, fica em pânico de cada vez que vê uma, a fechar o carro imediatamente, eu começo a ver a minha vida a andar para trás. A dada altura vejo uma bicha pousada no tabliê, comprida, acastanhada, achatada… estranha e pergunto se era aquilo uma mosca tse tse. Foi o caraças. Travanço repentino, agressões à bicha em tentativas desesperadas para a matar ou obrigar a sair do carro. Matei-a eu e seguimos viagem. Na fronteira provincial, a polícia manda-nos parar no controlo e temos de abrir as janelas para falar com as autoridades. O polícia do meu lado pergunta de onde vimos e ao mesmo tempo eu vejo dezenas de moscas daquelas a vir direitinhas a mim. Abano os braços para as enxotar, dou uns gritinhos histéricos (Não foi bonito!), grito Mbanza Congo e fecho a janela na cara do polícia, que perplexo, encolhe os ombros, enxota as moscas à volta dele e sorri. Do lado do motorista a coisa foi mais dificil e enquanto ele mostrava documentos eu, de havaiana na mão, matava moscas.
Numa das poucas paragens onde se pode comprar alguma coisa para comer, estavamos prestes a atacar umas belas bananas-pão assadas quando ouvimos um zzzzzzzzz perturbador. E vimos uma núvens de abelhas. Foi pernas para que te quero, trancas ao carro e pé no acelerador. Medo!
Com as galinhas do mato, foi tudo mais pacifico. São uns bichos bonitinhos e apareciam de vez em quando saídas da berma da estrada. Uma delas, ficou em êxtase por nos ver e atirou-se para debaixo do carro. O motorista ainda pensou em ir ver se os restos mortais davam para cozinhar (são um manjar apreciado, pelos vistos) mas deve ter visto na minha cara que a ideia de levar o cadaver no carro para Luanda me perturbava e desistiu. Fiquei aliviada.
Os dois macacos foram os únicos animais de jeito que vimos em mais de 1000km (ida e volta) por aqueles matos, florestas e savanas fora. A minha alma ficou parva e triste. A guerra deu cabo da fauna e da vida selvagem. Para quem viveu no Quénia é estranho (pelo menos os macacos, as zebras, os bambis e até girafas teriam aparecido em quantidade) . No inicio da viagem ainda dei por mim a espreitar a ver se via zebras ou bambis… nada! Pena… ficamos entregues às abelhas e às moscas.

2 Respostas

  1. Nossa maninha…essa bicharada não é simpática…ainda bem que eu não estava aí…não achava graça também…mas parece que o destino valeu o sacrifício da viagem, né? por isso…que se lixem as moscas, as abelhas e demais bichos feios e nojentos…lol!!!

    • Querida amiga, que bicharada interessante… vais lembrar mil vezes esse ambiente ecológico. E essas “reconfortantes” massagens devem ter sido um “must” . Será que não estás já a pensar num spa prolongado.? E essa da galinha cadáver é o máximo e estou a imaginar a tua cara ao pensares viajar com tal animalejo. No fim de tudo adorei a tua história e tirando todas essas coisas “boas” que tens experienciado, estás satisfeita com o teu trabalho e isso é muito saudável. Boa saúde, bom regresso e até breve sem picadas de mosca tsé tsé, nem galinha na bagagem.
      Beijinhos

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