Memorável, como todas as viagens, mas com um gostinho especial por desfrutar da companhia da minha irmã que finalmente ganhou coragem para vir a África. Não foi fácil organizar a “Volta”. Por um lado o tempo muito curto, por outro lado a gestão do meu trabalho aqui, por lado ainda, o receio dela em relação a este grande desconhecido. Sendo a pobreza, a miséria e a falta de estruturas um lugar comum associado à África em geral e um estereótipo que impede muita gente de aproveitar ao máximo a experiência, decidi mostrar-lhe o outro lado da moeda: o glamour, a riqueza, o deslumbramento da natureza… até porque o resto, está sempre ali ao lado e bem visível.
Foram dias de diversão e descontracção. Foram horas e horas de viagem por terra de autocarro, de matatu, de tuk tuk… e algumas de voo (para tornar possível passar uns dias na costa). Foram dias de imprevistos, de tensão, de encantamento, de frustração e sempre, de boa disposição. Fomos do extremo oeste, no Lago Vitória, onde eu vivo, até ao extremo este, na costa, para desfrutar de uns belos dias de Sol e Mar (tão preciosos para quem vem do frio e do Inverno Europeu). Pelo caminho exploramos Nairobi, Kisumu e Mombasa, visitamos o incontornável parque de Maasai Mara, descobrimos juntas o maravilhoso parque das Aberdares, passamos momentos lindos na Muringa Farm, na companhia do Erik e da Astrid e atiramos com os nossos corpos cansados para a areia a branca de Diani Beach. Conhecemos pessoas fantásticas, apresentei-lhe amigos novos desta vida e rimos muito.
Aqui fica o relato possível de 12 dias inesquecíveis à volta do Quénia (dos quais estamos ainda, as duas, a recuperar).
O dia D foi o dia 16 de Fevereiro. Depois de duas escalas, em Madrid e em Istambul (que tornam as viagens muito cansativas mas muito mais baratas), a chegada estava prevista para a improvável hora das 4h da manhã. Como de costume tinha tudo organizado (o Martin de prevenção com o seu táxi, para me apanhar às 3h da manhã no Albergue e seguirmos para o aeroporto) e nada aconteceu como previsto (o Martin adormeceu no carro e não me foi buscar). Como devem imaginar Nairobi não é a cidade mais segura do mundo para uma pessoa se fazer à rua de madrugada e apanhar um táxi desconhecido para onde quer que seja. Pior ainda se se tratar de uma mzunga. Dou então por mim na entrada do albergue a ligar ao Martin sem resposta e com o tempo a passar. Olho em volta e não vejo vivalma. Naquela noite, quente e estrelada, Nairobi parecia-me um deserto. Resolvi procurar pelos guardas que fazem segurança ao albergue a ver se conheciam algum taxista que estivesse de serviço. Nem vê-los. Comecei a procurá-los. Achei que estivessem a fazer a ronda ou algo do género. Nada. Entretanto, ao fundo, no jardim, vejo uma sombra compacta no lugar onde estão algumas mesas e cadeiras. Aproximo-me. Frustrada constato que se trata de um saco grande em cima da cadeira ou de um monte de roupa. Não desisto. Como não via bem o que estava à minha frente, resolvi ir lá tocar. Ao primeiro toque, o “monte” ganha vida e, num sobressalto levanta-se. Era o guarda, a dormir embrulhado em meia dúzia de casacos, com um gorro na cabeça e cachecol de lã à volta da cara. Deixem-me dizer que os quenianos em geral e os guardas em particular, são gente estranhamente friorenta. Basta o termómetro descer aos 20º e tiram logo do armário camisolas de lã e blusões de penas. E verifico que o “frio” da noite os perturba particularmente. Depois de algumas dificuldades de comunicação devido ao facto de eu continuar a não entender a pronúncia local (agravada pelo facto de estar a falar com um tipo embrulhado num cachecol) lá conseguimos um táxi seguro, conduzido pelo Filemon e cheguei ao aeroporto a tempo de ver a maninha chegar esbaforida com o calor dos trópicos.
O dia seguinte foi o único em que pudemos visitar Nairobi e não foi fácil seleccionar as “vistas” numa cidade tão grande e diversificada. A Mariana (aka mzunguinha) juntou-se a nós e fomos para o centro de autocarro (à pois!). Subimos ao topo do KCC de onde se tem uma bela panorâmica da cidade, passeamos pela baixa e demos uma voltinha à cidade, de táxi (na companhia de um Martin acordado e mortificado) a caminho do Westegate (um centro comercial moderno ao nível dos melhores da Europa) onde nos juntamos a um grupo de portugueses para jantar no fantástico Art Café (um dos mais bonitos e melhores que eu conheço!) Um à parte para explicar que durante 1 ano achei que era a única portuguesa no Quénia. Nunca me cruzei com nenhum outro e no MNE tinham-me dito que nem sequer havia representação diplomática por lá. E bastou a Mariana chegar, dar com a embaixada, ir a uma festa organizada por eles para descobrir que afinal, não estamos sós. E outro à parte só para explicar que não gosto de centros comerciais, excepto quando se vive em Kisumu e uma ida ao centro comercial parece uma viagem a um mundo familiar e reconfortante.
Mas adiante. No dia seguinte, acordamos bem cedinho, abalamos para a central da Easy Coach e fizemo-nos à estrada durante 7 horas até chegar a Kisumu. É uma viagem fantástica que permite ter uma percepção forte da diversidade do país através do Rift Valley, das plantações de chá de Kericho e do mundo rural até se chegar a Kisumu.
A cidade é uma típica cidade africana, onde a vida se processa na rua, onde a confusão de meios de transporte, dos mais convencionais, aos mais criativos reina no centro e onde há alguns bairros ricos que parecem bolhas de bem estar e serenidade. O palácio Vitória, onde vivo (assim baptizado pela Mariana, que o conheceu depois de uns dias infelizes a habitar no bairro de lata de Kibera) fica um bocadinho fora da cidade, mesmo, mesmo em frente ao grande lago e na viagem de tuk tuk até lá a minha irmã foi pondo o olho na vizinhança, pobre, nas casas de lama, no lixo e no mau cheiro… de tal maneira que quando chegamos a casa a moça estava muda, tensa e podia ler-se-lhe nos olhos que tudo ali á volta para ela era feio, assustador e que só se queria ir embora. No dia seguinte era dia de seguir para Maasai Mara às 5.30 da manhã e tínhamos que descansar. O impacto inicial desvaneceu-se com uma visita ao Kiboko Bay Resort para ver o maravilhoso pôr-do-Sol e de umas belas gargalhadas na companhia da Lynn e de manhã tínhamos o Moses à nossa espera para o safari mais alucinante e hilariante da minha vida.
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Muito verídico maninha…estou a gostar…podes continuar…LOL…mas no fim de tudo, o que vale é a experiência fantástica e a viagem…que adorei!!!bj
…peço desculpa pelo lapso!
Com certeza que a irmã teve uma guia experiente , no fundo não haveria receio pois 1 ano de vivência no Quénia já ensina qualquer coisinha….sempre melhor do que tu quando partiste!
Bjs
🙂
sem dúvida… eu passei um mau bocado nos primeiros meses sem conhecer nada nem ninguém… faz parte 🙂
…pois, deu para ler nos posts.
adorei!vcs estao lindas!!!beijinho
…desculpem nao me identifiquei.
desculpa nao me identifiquei!
E para te penitenciares identificaste-te duas vezes LOL
Obrigada prima 🙂 nós somos lindas! e Àfrica fica-nos bem 😛
Pena não poder trazer cá a família toda… havia de ser bonito.
Beijinhos!!
Já estou a aguardar o alucinante e hilariante safari. Por esta descrição até parece que lá estive…